Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NATAL EM TEMPO DE IMPÉRIO

D. Manuel Linda, Bispo das Forças Armadas e de Segurança


Os números. Sempre os números…



Dizem que o desemprego recua umas centésimas, que as exportações aumentam ligeiramente, que a economia dá sinais de retoma, que o PIB cresce... Ainda bem. Já não era sem tempo!

O Governo felicita-se, a Oposição desvaloriza, os sindicatos endurecem a luta, os comentaristas interpretam como lhes apetece, os «opinon makers» insinuam que já se vislumbra luz ao fundo do túnel.

E as pessoas? E o povo, meu Deus?

Bem, o povo, na sua sabedoria irónica, recorre ao exemplo tradicional: a existência de mais um frango em cima da mesa, só por si, não garante que todos os comensais possam matar a fome. Se um qualquer açambarcador os come todos, o maior número de frangos só faz crescer a água na boca e o efeito de um soco no estômago aos que deles ficam privados.

Até porque lhe vêm à memória as recentes estatística e a crueza dos seus dados: que Portugal foi o país da Europa que mais viu agravar-se o fosso entre ricos e pobres; que estes o são cada vez mais e que aqueles prosperam a olhos vistos; que estão a matar a classe média; que nunca se viu por aí tanto «topo de gama» enquanto o resto dos concessionários quase não se estreia nas vendas; que…

E mais: recorda-se que quem manda aqui é um império. Sem bandeira nem território.

Mas com capital e capitais. Chama-se FMI. E o povo sabe que este império possui uma lei fundamental que aplica no mundo, «chapa cinco», desde os anos sessenta: esmaga os salários para «recapitalizar» as empresas. Ou os donos?

Por isso, em nome de uma deusa estranha chamada «competitividade», acha inconcebível que se aumente 15 euros no salário mínimo. Sim, cinquenta cêntimos por dia! Mas parece-lhe crime de lesa-majestade que um qualquer gestor de pacotilha, colocado à frente das empresas públicas pelos «bons serviços» prestados ao Partido, aufira menos de sete, dez ou quinze mil euros por mês. Ou mais! Ou trinta ou quarenta mil!

Mas, afinal, isto já não é novo. Há dois mil anos, pelo menos, um outro império, chamado romano, também era especialista em tirar. Não aos pobres para dar aos ricos, que Marx foi dos primeiros a falar dessas modernices. Mas tirar a todo o mundo escravizado para dar aos «cidadãos», aos romanos da urbe. Àqueles que nem sequer precisavam de serem gestores ou administradores porque o Estado lhes entregava «pão e circo» de mão beijada.

Só que no meio dessa «normalidade» anormal, chegou um Menino. Fraco e indefeso. Mas meigo e amigo de todos. E não se esqueceu do cântico que ouvia à Sua Mãe: “O Todo-Poderoso […] manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias”. E as coisas mudaram…

E há quem garanta que esse Menino continua por aí…


Semanário ECCLESIA nº 1412, 19 de Dezembro de 2013

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