Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sábado, 20 de janeiro de 2018

UMA IGREJA COM ROSTO AMAZÓNICO


Nesta Sexta-feira o Papa Francisco encontrou-se com os povos da Amazónia na cidade peruana de Puerto Maldonado
   
   
Na manhã de sexta-feira, dia 19, o Papa Francisco deslocou-se a Puerto Maldonado a fim de se encontrar com os representantes dos povos da Amazónia, aos quais será dedicada a assembleia especial do Sínodo dos bispos programada para Outubro do próximo ano em Roma.

A importância dada por Sua Santidade a este encontro foi expressa no facto de o primeiro encontro no Peru ter sido com os povos da Amazónia e não com as autoridades, como normalmente acontece.

Terra de esperança devido à pluralidade cultural, à presença de muitos jovens, à santidade de algumas figuras cristãs, contudo o Peru inteiro está ameaçado pela ávida e insensata exploração das suas riquezas em detrimento do ambiente natural e do humano.
Por isso, dirigindo-se às autoridades, o Papa voltou a falar de ecologia integral, central na encíclica ‘Laudato si’, o grande documento social do pontificado, que teve grande impacto em muitos ambientes laicos.


O Papa Francisco falou nas feridas profundas que carregam consigo a Amazónia e os seus povos.

Quis vir visitar-vos e escutar-vos, para estarmos juntos no coração da Igreja, solidarizarmo-nos com os vossos desafios e, convosco, reafirmarmos uma opção sincera em prol da defesa da vida, defesa da terra e defesa das culturas.

Provavelmente, nunca os povos originários amazónicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como o estão agora.
A Amazónia é uma terra disputada em várias frentes: por um lado, a nova ideologia extractiva e a forte pressão de grandes interesses económicos cuja avidez se centra no petróleo, gás, madeira, ouro e monoculturas agro-industriais; por outro, a ameaça contra os vossos territórios vem da perversão de certas políticas que promovem a «conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano, nomeadamente vós irmãos amazónicos que a habitais.
Temos conhecimento de movimentos que, em nome da conservação da floresta, se apropriam de grandes extensões da mesma e negoceiam com elas gerando situações de opressão sobre os povos nativos, para quem, assim, o território e os recursos naturais que há nele se tornam inacessíveis.
Este problema sufoca os vossos povos, e causa a migração das novas gerações devido à falta de alternativas locais.
Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazónia como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes.”

Na defesa da vida.

A defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida.
Conhecemos o sofrimento que suportam alguns de vós por causa de derrames de hidrocarbonetos que ameaçam seriamente a vida das vossas famílias e poluem o vosso ambiente natural.

Paralelamente, há outra devastação da vida que está associada com esta poluição ambiental causada pela extracção ilegal.
Refiro-me ao tráfico de pessoas: o trabalho escravo e o abuso sexual.
A violência contra os adolescentes e contra as mulheres é um grito que chega ao céu.”

Mais uma vez, como expressei na ‘Laudato si’, é necessário levantar a voz contra a pressão que alguns organismos internacionais fazem em certos países para promover políticas de esterilização.
Estas encarniçam-se de modo mais incisivo sobre as populações aborígenes.
Sabemos que nelas se continua a promover a esterilização das mulheres, às vezes sem conhecimento delas próprias.”

Na cultura dos povos e na família.

A cultura dos nossos povos é um sinal de vida.
A Amazónia, além de constituir uma reserva da biodiversidade, é também uma reserva cultural que deve ser preservada face aos novos colonialismos.
A família é – como disse uma de vós –, e sempre foi, a instituição social que mais contribuiu para manter vivas as nossas culturas.
Em períodos de crises passadas, face aos diferentes imperialismos, a família dos povos indígenas foi a melhor defesa da vida.
Exige-se-nos um cuidado especial para não nos deixarmos prender por colonialismos ideológicos mascarados de progresso, que entram pouco a pouco delapidando identidades culturais e estabelecendo um pensamento uniforme, único e… débil.
Escutai os idosos, por favor.
Têm uma sabedoria que os põe em contacto com o transcendente e faz-lhes descobrir o essencial da vida.”

Na educação.

A educação ajuda-nos a lançar pontes e a gerar uma cultura do encontro.
A escola e a educação dos povos nativos devem ser uma prioridade e um compromisso do Estado; compromisso integrador e inculturado que assuma, respeite e integre como um bem de toda a nação a sua sabedoria ancestral.”

Nos jovens.

Congratulo-me também com todos os jovens dos povos nativos que se esforçam por elaborar, do seu próprio ponto de vista, uma nova antropologia e trabalham por reler a história dos seus povos a partir da sua perspectiva.”

Por último, referiu-se à presença da Igreja na Amazónia e lembrou o Sínodo para a Amazónia no ano de 2019.

Queridos irmãos da Amazónia, quantos missionários e missionárias se comprometeram com os vossos povos e defenderam as vossas culturas!
Fizeram-no, inspirados no Evangelho.
Cristo também Se encarnou numa cultura, a hebraica, e a partir dela ofereceu-Se-nos como novidade a todos os povos, para que cada um, a partir da respectiva identidade, se sinta auto-afirmado n’Ele.”

Ajudai os vossos bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazónico e uma Igreja com rosto indígena.
Com este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazónia no ano de 2019, cuja primeira reunião do Conselho Pré-Sinodal se realizará, aqui, hoje de tarde.”








Fontes: Santa Sé; Noticias do Vaticano; L'Osservatore Romano


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