Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sábado, 28 de setembro de 2013

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS CATEQUISTAS – 27 de Setembro de 2013


Conforme transmitimos em directo na tarde da ontem, 27 de Setembro, o Papa Francisco encontrou-se, na Sala Paulo VI, com os participantes do Congresso Internacional de Catequese organizado no âmbito do Ano da Fé.


Deixamos para reflexão o texto do seu discurso, na Sala Paulo VI, Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013:


Amados catequistas, boa tarde!

Gosto de que haja, no Ano da Fé, este encontro para vós: a catequese constitui uma coluna para a educação da fé, e são precisos bons catequistas!

Obrigado por este serviço à Igreja e na Igreja.

Embora possa às vezes ser difícil – trabalha-se tanto, empenha-se e não se vêem os resultados desejados –, mas educar na fé é maravilhoso!
É talvez a melhor herança que possamos dar a alguém: a fé!
Educar na fé, para que essa pessoa cresça.
Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos a conhecerem e amarem cada vez mais o Senhor é uma das mais belas aventuras educativas; está-se a construir a Igreja!

«Ser» catequista!
Não trabalhar como catequista: isso não adianta! Trabalho como catequista, porque gosto de ensinar… Se porém tu não és catequista, não adianta! Não serás fecundo, não serás fecunda!

Catequista é uma vocação.
«Ser catequista»: esta é a vocação; não trabalhar como catequista.
Atenção que eu não disse «fazer» o catequista, mas «sê-lo», porque compromete a vida: guia-se para o encontro com Cristo, através das palavras e da vida, através do testemunho.

Lembrai-vos daquilo que nos disse Bento XVI: «A Igreja não cresce por proselitismo. Cresce por atracção».

E aquilo que atrai é o testemunho.
Ser catequista significa dar testemunho da fé; ser coerente na própria vida. E isto não é fácil.
Não é fácil! Nós ajudamos, guiamos para chegarem ao encontro com Jesus através das palavras e da vida, através do testemunho.

Gosto de recordar aquilo que São Francisco de Assis dizia aos seus confrades: «Pregai sempre o Evangelho e, se for necessário, também com as palavras».

As palavras têm o seu lugar… mas primeiro o testemunho: que as pessoas vejam na nossa vida o Evangelho, possam ler o Evangelho.
E «ser» catequista requer amor: amor cada vez mais forte a Cristo, amor ao seu povo santo.
E este amor não se compra nas lojas, nem se compra sequer aqui em Roma.
Este amor vem de Cristo! É um presente de Cristo! É um presente de Cristo!
E se vem de Cristo, parte de Cristo; e nós devemos recomeçar de Cristo, deste amor que Ele nos dá.
Para um catequista, para vós e para mim, porque também eu sou catequista, que significa este recomeçar de Cristo? Que significa?

Eu vou falar de três pontos: um, dois e três, como faziam os antigos jesuítas… um, dois e três!

1. Antes de tudo, recomeçar de Cristo significa cultivar a familiaridade com Ele, ter esta familiaridade com Jesus: Jesus recomenda-o, com insistência, aos discípulos na Última Ceia, quando Se prepara para viver o dom mais sublime de amor, o sacrifício da Cruz.

Recorrendo à imagem da videira e dos ramos, Jesus diz: Permanecei no meu amor, permanecei ligados a mim, como o ramo está ligado à videira.

Se estivermos unidos a Ele, podemos dar fruto, e esta é a familiaridade com Cristo.
É permanecer em Jesus!
Permanecer ligados a Ele, dentro d’Ele, com Ele, falando com Ele: permanecer em Jesus.

A primeira coisa necessária para um discípulo é estar com o Mestre, ouvi-Lo, aprender d’Ele.
E isto é sempre válido, é um caminho que dura a vida inteira!

Recordo que, na diocese (na outra diocese que tinha antes), via muitas vezes, no fim dos cursos no seminário catequético, os catequistas saírem dizendo:
«Tenho o título de catequista!».
Isso não adianta, não tens nada, fizeste apenas um bocado de estrada!
Quem te ajudará? Isto sim, que vale sempre!
Não um título, mas um procedimento: estar com Ele; e dura toda a vida!
É estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele.

Pergunto-vos: Como estais na presença do Senhor?
Quando ides ter com o Senhor, enquanto olhais o Sacrário, que fazeis?
Sem palavras… Mas eu falo, falo, penso, medito, ouço…
Muito bem! Mas tu… deixas-te olhar pelo Senhor?

Sim, deixar-se olhar pelo Senhor. Ele olha-nos, e esta é uma maneira de rezar.

Deixas-te olhar pelo Senhor? Mas, como se faz? Olhas para o Sacrário e deixas-te olhar… é simples!
É um pouco maçador, adormeço… Se adormeceres, adormeces! Ele olhar-te-á igualmente, olhar-te-á igualmente.

Mas, teres a certeza de que Ele te olha é muito mais importante do que o título de catequista: faz parte do ser catequista.
Isto inflama o coração, mantém aceso o fogo da amizade com o Senhor, faz-te sentir que Ele verdadeiramente olha para ti, está perto de ti e te ama.

Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Missa, aproximou-se um senhor, relativamente jovem, e disse-me:
«Padre, prazer em conhecê-lo; mas eu não acredito em nada! Não tenho o dom da fé!»
Ele entendia que a fé era um dom.
«Não tenho o dom da fé! Que me recomenda o senhor?»
«Não desanimes! Deus ama-te. Deixa-te olhar por Ele. E basta».

O mesmo vos digo a vós: Deixai-vos olhar pelo Senhor!
Compreendo que, para vós, não é tão simples: especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo longo de tranquilidade.
Mas, graças a Deus, não é necessário que todos façam da mesma maneira; na Igreja, há variedade de vocações e variedade de formas espirituais; o importante é encontrar o modo adequado para estar com o Senhor; e isto pode acontecer, é possível em todos os estados de vida.

Neste momento, cada um pode interrogar-se: Como é que eu vivo este «estar» com Jesus?
Esta é uma pergunta que vos deixo:
«Como é que eu vivo este estar com Jesus, este permanecer em Jesus?»
Tenho momentos em que permaneço na sua presença, em silêncio, e me deixo olhar por Ele?
Deixo que o seu fogo inflame o meu coração? Se, no nosso coração, não há o calor de Deus, do seu amor, da sua ternura, como podemos nós, pobres pecadores, inflamar o coração dos outros?
Pensai nisto!

2. O segundo elemento é este – dois – recomeçar de Cristo significa imitá-Lo na saída de Si mesmo para ir ao encontro do outro.
Trata-se de uma experiência maravilhosa, embora um pouco paradoxal.
Porquê? Porque, quem coloca Cristo no centro da sua vida, descentraliza-se!
Quanto mais te unes a Jesus e Ele Se torna o centro da tua vida, tanto mais Ele te faz sair de ti mesmo, te descentraliza e abre aos outros.

Este é o verdadeiro dinamismo do amor, este é o movimento do próprio Deus!
Sem deixar de ser o centro, Deus é sempre dom de Si, relação, vida que se comunica... E assim nos tornamos também nós, se permanecermos unidos a Cristo, porque Ele faz-nos entrar neste dinamismo do amor.
Onde há verdadeira vida em Cristo, há abertura ao outro, há saída de si mesmo para ir ao encontro do outro no nome de Cristo.

E o trabalho do catequista é este: por amor, sair continuamente de si mesmo para testemunhar Jesus e falar de Jesus, anunciar Jesus.
Isto é importante, porque é obra do Senhor: é precisamente o Senhor que nos impele a sair.

O coração do catequista vive sempre este movimento de «sístole-diástole»: união com Jesus - encontro com o outro.

Existem as duas coisas: eu uno-me a Jesus e saio ao encontro dos outros.
Se falta um destes dois movimentos, o coração deixa de bater, não pode viver.
Recebe em dom o querigma e, por sua vez, oferece-o em dom. Importante esta palavrinha: dom!
O catequista está consciente de que recebeu um dom: o dom da fé; e dela faz dom aos outros.
Isto é maravilhoso! E não reserva uma percentagem para si! Tudo aquilo que recebe, dá-o.
Aqui não se trata de um negócio! Não é um negócio! É puro dom: dom recebido e dom transmitido.
E o catequista está ali, nesta encruzilhada de dom. Isto está na própria natureza do querigma: é um dom que gera missão, que impele sempre para além de si mesmo.

São Paulo dizia: «O amor de Cristo nos impele»; mas esta expressão «nos impele» também se pode traduzir por «nos possui».

É assim o amor: atrai-te e envia-te, toma-te e dá-te aos outros. É nesta tensão que se move o coração do cristão, especialmente o coração do catequista.
Perguntemo-nos, todos: É assim que bate o meu coração de catequista: união com Jesus e encontro com o outro? Com este movimento de «sístole e diástole»? Alimenta-se na relação com Ele, mas para O levar aos outros e não para o reter?
Eis o que vos digo: Não compreendo como possa um catequista ficar parado, sem este movimento. Não compreendo!

3. E o terceiro elemento – três – situa-se também nesta linha: recomeçar de Cristo significa não ter medo de ir com Ele para as periferias. Isto traz-me à mente a história de Jonas, uma figura muito interessante, especialmente nos nossos tempos de mudanças e incerteza.

Jonas é um homem piedoso, com uma vida tranquila e bem ordenada; isto leva-o a ter bem claros os seus esquemas e a julgar rigidamente tudo e todos segundo esses esquemas.
Vê tudo claro, a verdade é esta. É rígido!
Por isso, quando o Senhor o chama e lhe diz para ir pregar à grande cidade pagã de Nínive, Jonas não quer. Ir lá! Mas eu tenho toda a verdade aqui!
Não quer ir… Nínive está fora dos seus esquemas, está na periferia do seu mundo.
Então escapa, vai para Espanha, foge, embarca num navio que vai para aqueles lados. Ide ler o Livro de Jonas! É breve, mas é uma parábola muito instrutiva, especialmente para nós que estamos na Igreja.

Que nos ensina? Ensina-nos a não ter medo de sair dos nossos esquemas para seguir a Deus, porque Deus vai sempre mais além.
Sabeis uma coisa? Deus não tem medo! Sabíeis isto?! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas! Deus não tem medo das periferias.
Se fordes às periferias, encontrá-Lo-eis lá. Deus é sempre fiel, é criativo.
Mas, por favor, não se compreende um catequista que não seja criativo. A criatividade é como que a coluna do ser catequista.

Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido!
Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos.
Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anunciar o Evangelho. Para permanecermos com Deus, é preciso saber sair, não ter medo de sair.

Se um catequista se deixa tomar pelo medo, é um covarde; se um catequista se fecha tranquilo, acaba por ser uma estátua de museu: e temos muitos! Temos muitos! Por favor, estátuas de museu, não! Se um catequista é rígido, torna-se encarquilhado e estéril.

Pergunto-vos: Alguém de vós quer ser covarde, estátua de museu ou estéril? Algum de vós tem vontade de o ser? [catequistas: Não!] Não? Têm a certeza? … Está bem!
Aquilo que vou dizer agora, já o disse muitas vezes; mas sinto no coração que o devo dizer.

Quando nós, cristãos, estamos fechados no nosso grupo, no nosso movimento, na nossa paróquia, no nosso ambiente, permanecemos fechados; e acontece-nos o que sucede a tudo aquilo que está fechado: quando um quarto está fechado, começa a cheirar a mofo. E se uma pessoa está fechada naquele quarto, adoece!
Quando um cristão está fechado no seu grupo, na sua paróquia, no seu movimento, está fechado, adoece.

Se um cristão sai pelas estradas, vai às periferias, pode acontecer-lhe o mesmo que a qualquer pessoa que anda na estrada: um acidente.
Quantas vezes vimos acidentes na estrada!
Mas eu digo-vos: prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja doente! Prefiro uma Igreja, um catequista que corra corajosamente o risco de sair, que um catequista que estude, saiba tudo, mas sempre fechado: este está doente. E às vezes está doente da cabeça…

Atenção, porém!
Jesus não diz: Ide, arranjai-vos. Não, não diz isso! Jesus diz: Ide, Eu estou convosco!
Nisto está o nosso encanto e a nossa força: se formos, se sairmos para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito apostólico, com franqueza, Ele caminha connosco, precede-nos, - digo-o em espanhol – nos «primerea». O Senhor sempre nos «primerea»!

Decerto já aprendestes o significado desta palavra!. E isto é a Bíblia que o diz, não eu.
A Bíblia diz, ou melhor, o Senhor diz na Bíblia: Eu sou como a flor da amendoeira.
Porquê? Porque é a primeira flor que desabrocha na primavera.
Ele é sempre o «primero»! Ele é o primeiro! Para nós, isto é fundamental: Deus sempre nos precede! Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas, na realidade, Ele já está lá: Jesus espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé.

Vós sabeis uma das periferias que me faz tão mal, tão mal que me faz doer (senti-o na diocese que tinha antes)?
É a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Em Buenos Aires, há muitas crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Esta é uma periferia!
É preciso ir lá!
E Jesus está lá, espera por ti para ajudares aquela criança a fazer o Sinal da Cruz. Ele sempre nos precede.

Amados catequistas, acabaram-se os três pontos.
Recomeçar sempre de Cristo!
Agradeço-vos pelo que fazeis, mas sobretudo porque estais na Igreja, no Povo de Deus em caminho, porque caminhais com o Povo de Deus.

Permaneçamos com Cristo – permanecer em Cristo –, procuremos cada vez mais ser um só com Ele; sigamo-Lo, imitemo-Lo no seu movimento de amor, no seu sair ao encontro do homem; e saiamos, abramos as portas, tenhamos a audácia de traçar estradas novas para o anúncio do Evangelho.

Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos acompanhe! Obrigado!

Maria é nossa Mãe; Maria, sempre, nos leva a Jesus!
Elevemos uma oração, uns pelos outros, a Nossa Senhora [Ave Maria]. [Bênção]. Muito obrigado!


Fonte: Santa Sé




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