Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

DEPOSITAR A ESPERANÇA EM DEUS, NÃO NOS FALSOS ÍDOLOS



Na catequese de ontem o Papa Francisco alertou contra as falsas esperanças oferecidas ao mundo pelos fabricantes de ídolos



Prosseguindo o ciclo das catequeses dedicadas à esperança cristã à luz das Escrituras, o Santo Padre inspirou-se no salmo 115, mas sobretudo — como de costume — na sua experiência pessoal de bispo em Buenos Aires.


O texto completo da catequese do Papa Francisco:


Amados irmãos e irmãs, bom dia!

No passado mês de Dezembro e na primeira parte de Janeiro celebrámos o tempo do Advento e depois o do Natal: um período do ano litúrgico que desperta a esperança no povo de Deus.
Esperar é uma necessidade primária do homem: esperar no futuro, acreditar na vida, o chamado «pensar positivo».

Mas é importante que esta esperança seja posta naquilo que pode deveras ajudar a viver e a dar sentido à nossa existência.
É por isso que a Sagrada Escritura nos admoesta contra as falsas esperanças que o mundo nos apresenta, desmascarando a sua inutilidade e mostrando a sua insensatez.
E faz isto de várias maneiras, mas sobretudo denunciando a falsidade dos ídolos nos quais o homem é continuamente tentado a pôr a sua confiança, fazendo deles objecto da sua esperança.

Em particular os profetas e sábios insistem sobre isto, tocando um ponto nevrálgico do caminho de fé do crente.
Porque fé significa confiar em Deus — quem tem fé, confia em Deus — mas chega o momento em que, confrontando-se com as dificuldades da vida, o homem experimenta a fragilidade daquela confiança e sente a necessidade de certezas diversas, de seguranças tangíveis, concretas.
Confio em Deus, mas a situação é um pouco crítica e eu preciso de uma certeza um pouco mais concreta.
E está ali o perigo! Então somos tentados a procurar consolações até efémeras, que parecem preencher o vazio da solidão e aliviar a fadiga do crer.
E pensamos que as devemos encontrar na segurança que o dinheiro pode dar, nas alianças com os poderosos, na mundanidade, nas falsas ideologias.
Por vezes procuramo-las num deus que se possa submeter aos nossos pedidos e magicamente intervir para mudar a realidade e torná-la como a queremos; um ídolo, precisamente, que como tal nada pode fazer, impotente e mentiroso.
Mas nós gostamos dos ídolos, gostamos tanto!
Certa vez, em Buenos Aires, devia ir de uma igreja para outra, mil metros, mais ou menos.
E fi-lo a pé.
Há um parque no meio, e no parque havia pequenas mesinhas, mas muitas, tantas, onde estavam sentados os videntes.
Estava cheio de gente, que faziam até a fila.
Tu davas-lhe a mão e ele começava, mas, a conversa era sempre a mesma: há uma mulher na tua vida, há uma sombra que vem mas tudo vai correr bem...
E depois, pagavas.
E isto dá-te segurança?
É a segurança de uma — permiti-me a palavra — de uma estupidez.
Ir ter com o vidente ou a vidente que lêem as cartas: isto é um ídolo!
Isto é o ídolo, e quando nós lhes estamos tão afeiçoados: compramos falsas esperanças.
Enquanto que na esperança da gratuitidade, que Jesus Cristo nos trouxe, gratuitamente dando a vida por nós, por vezes não confiamos muito nela.

Um salmo cheio de sabedoria apresenta-nos de modo muito sugestivo a falsidade destes ídolos que o mundo oferece à nossa esperança e na qual os homens de todas as épocas são tentados a confiar.
É o Salmo 115, que recita assim:

«Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens.
Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem.
Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram.
Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.
A eles se tornem semelhantes os que os fazem, assim como todos os que neles confiam!»
(vv. 4-8)

O salmista apresenta-nos, de maneira também um pouco irónica, a realidade absolutamente efémera destes ídolos.
E devemos compreender que não se trata só de representações feitas de metal ou de outro material, mas também das que são construídas com a nossa mente, quando confiamos em realidades limitadas que transformamos em absolutas, ou quando reduzimos Deus aos nossos esquemas e às nossas ideias de divindade; um deus que se parece connosco, compreensível, previsível, precisamente como os ídolos dos quais fala o Salmo.
O homem, imagem de Deus, fabrica para si mesmo um deus à sua própria imagem, e é até uma imagem mal feita: não ouve, não age e sobretudo não pode falar.
Mas, nós ficamos mais contentes por ir ter com os ídolos do que com o Senhor.
Muitas vezes sentimo-nos mais felizes com a esperança efémera que este falso ídolo nos dá, do que com a grande esperança certa que dá o Senhor.

À esperança num Senhor da vida que com a sua Palavra criou o mundo e conduz as nossas existências, contrapõe-se a confiança em simulacros mudos.
As ideologias com a sua pretensão de absoluto, as riquezas — e isto é um grande ídolo — o poder e o sucesso, a vaidade, com a sua ilusão de eternidade e de omnipotência, valores como a beleza física e a saúde, quando se tornam ídolos aos quais sacrificar tudo, são realidades que confundem a mente e o coração, e em vez de favorecer a vida conduzem à morte.
É mau e faz mal à alma ouvir aquilo que uma vez, há anos, escutei, na diocese de Buenos Aires: uma mulher bondosa, muito bonita, gabava-se da beleza, comentava, como se fosse natural: “Ah, sim, tive que abortar porque a minha figura é muito importante”.
São estes os ídolos, e levam-te pelo caminho errado e não te dão a felicidade.

A mensagem do Salmo é muito clara: se pusermos a esperança nos ídolos, tornamo-nos como eles: imagens vazias com mãos que não tocam, pés que não caminham, lábios que não podem falar.
Não temos mais nada a dizer, tornamo-nos incapazes de ajudar, de mudar as coisas, incapazes de sorrir, de nos doarmos, incapazes de amar.
E também nós, homens de Igreja, corremos este risco quando nos “mundanizamos”.
É necessário permanecer no mundo mas defender-se das ilusões do mundo, que são estes ídolos que mencionei.

Como prossegue o Salmo, é preciso confiar e esperar em Deus, e Deus concederá a bênção.
Diz assim o Salmo:

«Israel, confia no Senhor […]
Casa de Aarão, confia no Senhor […]
Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor […]
O Senhor lembrou-se de nós; ele nos abençoará»
(vv. 9.10.11.12).

O Senhor recorda-se sempre.
Até nos maus momentos ele se recorda de nós.
E esta é a nossa esperança.
E a esperança não desilude. Nunca. Nunca.
Os ídolos desiludem sempre: são fantasias, não são realidades.

Eis a maravilhosa realidade da esperança: se confiarmos no Senhor tornamo-nos como Ele, a sua bênção transforma-nos em seus filhos, que partilham a sua vida.
A esperança em Deus faz-nos entrar, por assim dizer, no raio de acção da sua recordação, da sua memória que nos bendiz e nos salva.
E então pode brotar o aleluia, o louvor ao Deus vivo e verdadeiro, que por nós nasceu de Maria, morreu na cruz e ressuscitou na glória.
E neste Deus nós temos esperança, e este Deus — que nunca é um ídolo — nunca desilude.

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017


Nas saudações finais aos peregrinos, a propósito da idolatria do dinheiro, o Papa quis recordar com força que a participação na audiência é totalmente gratuita, denunciando os responsáveis por verdadeiras trapaças contras os fiéis.

Quero dizer-vos agora uma coisa que não gostaria de dizer, mas tenho que o fazer.
Para entrar nas audiências há bilhetes nos quais está escrito numa, duas, três, quatro, cinco e seis línguas que «O bilhete é totalmente gratuito».
Para entrar na audiência, quer na sala [Paulo VI] quer na praça, não se deve pagar, é uma visita gratuita que se faz ao Papa para falar com o Papa, com o bispo de Roma.
Mas soube que há espertalhões, que pedem dinheiro pelos bilhetes.
Se alguém disser que para aceder à audiência com o Papa é preciso pagar alguma quantia, está a burlar-te: está atento, está atenta!
A entrada é gratuita.
Aqui entra-se sem pagar, porque esta é casa de todos.
Se alguém pretender que pagueis para entrar na audiência comete um crime, como um delinquente, e faz algo que não se deve fazer!


Fontes: Santa Sé; Rádio Vaticano; L'Osservatore Romano


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